segunda-feira, 24 de março de 2008

Vazio

Naquela manhã cinzenta, a melancolia pairava em meu espírito. Não podia evitar aquela angústia no coração que apagava meus sonhos tão belos e o futuro que há pouco era uma certeza mostrava-se um vazio. O extremo cansaço fazia com que eu carregasse aquela barriga enorme como um fardo indesejado.

Com tristeza recordei da empolgação que senti no momento da inseminação. Estava tão bem treinada, preparei-me para o auge de minha existência. E via meus planos escoarem-se em meio a lágrimas inúteis.

O que me dava a certeza do fracasso? Não saberia dizer ao certo. Era apenas intuição. Mas era o suficiente. Já soubera de vários casos assim. Não chegavam a ser frequentes, mas eram descritos da mesma forma com que agora me sentia com aquele ser em meu ventre.

Se ao menos eu tivesse um companheiro, talvez conseguisse desabafar. Ah, nem assim. Era certo que a sensação de incompetência me impediria. E só de pensar nisso meu rosto ardia de vergonha. E meu medo aumentava conforme a hora se aproximava.

Não tenho propriamente arrependimento. Sinto-me nauseada e estúpida. Não havia escolha, esse era o caminho predestinado. E mesmo com todo o esforço que fiz, decaí a ponto de querer desaparecer. Sabia o que me esperava no final.

Minha cabeça começou a flutuar, meu cérebro adormeceu. Cheguei à beira da inconsciência. Gostaria de ter afundando. Mas não. Vi ainda os olhos vidrados do ser que gerei. Não havia a menor chance. Nem para ele, nem para mim. E o estranho fruto de minha jornada contorceu-se aflito. Silenciosamente. Levei-o para o local em que me aguardavam. Com olhos pregados no chão ouvi como tudo seria feito. Não podia sequer implorar por outra chance. Nem uma ponta de orgulho sobrara para me fazer resistir. Sabia muito bem de que forma seria recompensada. Resignadamente, mergulhei na completa escuridão.

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