segunda-feira, 24 de março de 2008

Passeio entre flores

Duas crianças caminham de mãos dadas. O campo irradia vida sob o ar primaveril que as envolve e traz o calor do sol às bochechas rosadas.

A menina carrega algo cuidadosamente na mão esquerda bem apertada, enquanto com a direita agarra a mão do garoto. Olham firmemente à frente, como se tivessem a certeza de por onde ir e um objetivo a alcançar. Vão com passos fortes e seguros. A única coisa que parece preocupar a ambos é não deixar escapar o que quer que a garota leva com tamanha cautela.

Eis que chegam aos pés e à sombra de um enorme chorão. A árvore parece acolhê-los como se já os esperasse. Sorri calma e majestosa por ser muito antiga. Sorri até que lágrimas umedecem seu tronco nodoso.

Ali o pequeno casal senta-se. Observam-se mutuamente, encantados. Era como se tivessem esperado séculos por aquele instante, para eles sagrado.

Um pássaro aproxima-se e foge ao vê-los, que percebem e riem alto, um riso cristalino que percorre o ar e alcança uma família que passeia por ali, ansiosa por um piquenique num dia esplendoroso como aquele.

Então o menino deita-se na grama. Seu par faz o mesmo.

Eis que surge um bebê engatinhando, curioso. Aproxima-se e abre a mão da garota, que não reage. O pequeno intruso engole rapidamente o que ela escondera com tanto cuidado e sai balbuciando contente atrás de sua mãe que vinha logo atrás.

O rosto da menina transforma-se numa máscara de dor indescritível. A boca abre-se como se fosse gritar enquanto vê o seu amigo (amor) ser envolvido por uma névoa, tornar-se transparente e desaparecer por completo, fitando-a sempre com olhos enormes e impotentes

Nenhum comentário: