segunda-feira, 24 de março de 2008

As Letras

O filósofo gostava imenso de suas letras. Observava-as maravilhado. Estava muito satisfeito com elas. Por isso nunca compreendeu completamente o porquê do acontecido, por mais que analisasse o caso.

Estivera trabalhando com elas há um longo tempo. As idéias vinham em profusão. Em breve sua mais importante teoria estaria completa. Estava orgulhoso e muito satisfeito com seu trabalho quando suas amadas letras embaralharam-se. E uma a uma começaram a abandonar os papéis.

Logo estavam por toda a parte. Não havia sobrado um livro, um escrito, nada. As páginas ficaram totalmente vazias.

Elas invadiram todos os aposentos. Cansaram-se do apartamento e seguiram para o elevador. Algumas atiraram-se pela janela e estatelaram-se no calçamento. O porteiro assustado não sabia o que fazer. Carros pararam para observar a insólita cena. Letras em profusão correndo ensandecidas.

E o sábio começou a procurá-las. Precisava de qualquer forma recuperar o que perdera, foram anos e anos de trabalhos, não podia deixá-las escapar assim.

Iniciou-se verdadeira perseguição. Aquelas que conseguia alcançar enfiava nos bolsos, o que não lhe servia de nada pois elas fugiam assim que eram capturadas. As pessoas à sua volta gritavam para que desistisse, diziam que era impossível, mas ele não parecia ouvir. Corria e pegava uma aqui e outra lá. E elas escapavam-lhe por entre os dedos.

O tempo foi passando e ele continuou em sua busca incessante, sem dar ouvidos ao apelo de ninguém. Tentou caçá-las até o fim de seus dias. Logicamente, em vão.

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