segunda-feira, 24 de março de 2008

Sombras Esquecidas

O universo em mutação. A temperatura oscilava tanto que passava rapidamente dos quarenta graus negativos para um calor dantesco. Todos estavam preparados para o futuro, era necessário. Muitos regozijavam-se, outros eram tomados pelo pânico. Afinal, ninguém conhecia a verdade, não havia a certeza. Especulava-se. Os sábios reuniam-se em sessões extenuantes. Caiam exaustos sobre as enormes mesas das salas de reunião.

Boatos corriam e atravessavam fronteiras. Entre o caos das paisagens o comentário comum era o de que homens do Estado guardavam o segredo.

E o desafio estava lançado. Aos poucos a população convenceu-se de que só lhe restava ter paciência e esperar. Porém, a desordem imperava e grande era o tormento nos corações.

Inúmeras batalhas sucediam-se. O sangue jorrava copiosamente. Homens tombavam aos milhares. E essa queda apenas aumentava o ódio e o rancor, tornando-os mais fortes. Erguiam-se e lutavam com maior ardor. A busca por conquistas era insaciável.

Nesse ponto, o clima era o que menos lhes interessava. Só tornava tudo um pouco mais trabalhoso. O lema era seguir adiante, a guerra havia de ser ganha, os obstáculos destruídos. A gana de vencer gerava aquela onda de destruição que não deixava sequer uma instalação intacta. Os meios de obter essa vitória eram impiedosos. Chegara-se a um extremo em que aeronaves, armas, munições, armaduras e combatentes equiparavam-se. As técnicas de combate, estratagemas, por mais astutos que fossem acabaram por igualar-se, tornando impossível a conclusão do que já se estendera por séculos.

Pairava aquela sensação de mudança. Os mais sagazes principiavam a compreender que por trás de toda aquela atividade havia um vazio que levava à estagnação. Até aqueles que ignoravam a estranheza da situação mantinham a esperança do segredo ser revelado e quem sabe haver uma solução. Os mais afoitos atiravam-se contra as muralhas, indignados por não terem como agir, impedir que tudo continuasse como estava, porque sentiam a mudança se aproximando e não suportavam mais a angústia da espera. Aqueles que até então aparentavam tranqüilidade estavam perdendo o juízo mais facilmente, ao contrário do que se poderia imaginar. Em algum ponto suas mentes falhavam permanentemente. Como esses distúrbios causavam grandes admoestações em tempos já difíceis o bastante, esses indivíduos eram excluídos, condenados ao isolamento perpétuo no espaço. Isso causava grande temor, era a pior desgraça que poderia abater-se sobre alguém.

Por fim a situação chegou ao seu limite. A paz instalava-se automaticamente. Soldados depuseram as armas. As feridas cicatrizaram. E veio o entendimento.

Aquele sonho não existia. A verdade estava ali, à frente de seus olhos cansados.

Sem temor, cabeças erguidas sentiram o calor do sol e aproveitaram a beleza da noite. Suas almas finalmente foram libertadas. Dormiram tranqüilos para nunca mais despertar.

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