segunda-feira, 24 de março de 2008

Constelações

Os três viajantes prosseguiam. Não eram incansáveis, ao contrário, procuravam constantemente dar ânimo uns aos outros. Graças à harmonia que reinava entre eles nunca se perderam.

A mesma determinação em seus rostos impulsionava-os naquele flutuar incessante. Ultrapassaram inúmeras barreiras, foram tantas que acabaram por perder a lembrança de suas próprias origens, tornando a passagem bastante dolorosa.

Mesmo com toda a cautela, estiveram a ponto de esquecer-se da luz. Em uma única ocasião, mergulharam na alegoria de um sábio, que mais tarde descobriram ser um charlatão, um mero caçador. Chegaram a perder o contato com o infinito.

Após essa imprudência, souberam controlar melhor seus impulsos e tornaram-se desconfiados em relação a todos que encontravam em seu caminho.

Cruzavam constantemente com outros. As informações que traziam eram desencontradas e deixavam-nos ainda mais confusos. Todas as hipóteses eram demonstradas com tamanha confiança e eloqüência que chegavam a ser vislumbradas. Se fossem ingênuos, essas visões nunca desapareceriam. Entretanto, a concentração que adquiriram através das experiências impedia-nos de serem enredados em novo engodo.

Já sabiam como desmascarar utópicos. Os que traziam consigo fortunas desproporcionais perdiam sua franqueza a um simples sinal afirmativo.

Era-lhes fácil lutar contra a grande quantidade de apelos, pois a dúvida de sucumbir era atemorizante.

Após diversas tentativas, ansiavam pela verdade. Pressentiam que seria alcançada a qualquer instante. Esse sentimento não os deixava fraquejar. Havia a certeza de ser inútil retornar ao passado. O que fora abandonado deixara de existir. O arrependimento levaria-os ao nada absoluto. Mas essa impossibilidade era encarada com otimismo e não deixava que se perdessem em divagações.

Complicado mesmo era persistir na viagem quando deparavam-se ao acaso com um sonho. Era sempre tentador atirar-se a ele. Pelo fato de serem um trio, ao menos um deles possuía a lucidez necessária para impedir essa fuga.

Prosseguiam por serem sinceros. Não havia necessidade de esforçarem-se nesse sentido, estava mesmo em seus sentimentos. Se houvesse falsidade, o caminho seria imediatamente cortado e falhariam, tornando-se seres errantes.

A possibilidade de a ilusão ser total era remota. Existia, contudo, e ela seria capaz de desmoroná-los, perderiam a confiança e transformar-se-iam em inválidos. Por estarem de acordo quanto à ilusão, o medo era afastado.

Foram os abençoados pela oportunidade. Sabiam que o cansaço seria imenso e por vezes insuportável.

Exauridos, não esperavam deparar-se com a dúvida. Esta pouco a pouco invadiu suas mentes, diluiu seus espíritos e corroeu seus corpos. Não se deram conta do acontecido.

Quando perceberam, a sinceridade afastou-se. A coragem tornou-se melancólica e a esperança era agora uma pobre moribunda.

Assim cada um seguiu uma estrela diferente, deixando subverter-se pelo destino.

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